Depois de tanto tempo de ausência, depois de tanto tempo sem pescar e depois de ler e reler as memórias desde blogue, deu-me vontade de o "reanimar" com mais algumas aventuras. Os tempos mudam, as pessoas e as vontades mudam, até os hobbies mudam, mas a paixão pela pesca não!
O facto de actualmente quase não ir à pesca e, das poucas vezes que o faço, ir sozinho, são a principal razão deste blogue estar "assistólico" há tanto tempo. Contudo, o prazer nostálgico que me deu (e dá) poder rever histórias de quando ainda nem tinha cabelos brancos e usava aparelho ortodôntico, é motivo suficiente para querer voltar a registar as escassas fugidas de pesca actuais. Quem sabe os restantes membros do Hotspot também ganham novo fôlego... era bom...
Pois bem, fui enganar o meu primeiro robalo de 2019 bem a Sul, no Litoral Alentejano. Por motivos profissionais, há já algum tempo que viajo regularmente para aqueles lados. Aos poucos, nos períodos de tempo antes e depois do trabalho, comecei por passear naquela bonita costa e a tentar selecionar spots para posteriormente pescar. Adoro essa fase da pesca, que muitos tentam ultrapassar espiando blogues e publicações nas redes sociais à procura de fotos e vídeos que permitam ir atrás dos sítios onde os outros foram felizes com capturas. Cada um sabe de si... Deu-me um tremendo gozo ir explorando aquelas praias calmas e quase sempre desertas na altura do Inverno! Em poucos quilómetros é possível passar de praias com areais sem fim para verdadeiras pedreiras com recantos mil! Que mais pode um pescador desejar? É só escolher!
Após alguma exploração sem canas, passei a viajar com elas. As grades foram algumas, até ao dia em que pesquei o meu primeiro robalo Alentejano. Já tinha tentado a sorte duas vezes naquela praia, sem qualquer sinal de peixe, mas com mar mais crescido. Naquele dia estavam finalmente as condições ideais: não soprava sequer uma brisa e o mar estava com uma ondulação certa, com cerca de 1,5m, no fim da vazante. Já tinha experimentado quase todas as amostras da caixa, quando me lembro de tentar a sorte com um passeante. Procuro e volto a procurar e nada de passeantes! Não tinha levado comigo nem um! Entre os muitos jerkbaits que trazia, escolhi o mais barato e, com uma pedra, parti-lhe a palheta. Nessa altura em que dou uma de MacGyver penso com os meus botões: "se pesco um robalo com este passeante improvisado vou ter uma história para contar aos meus netos, mas os meus amigos vão todos dizer que foi peta"! Ainda me ri sozinho... é o que dá pescar sozinho! Um gajo fala e ri-se sozinho, tipo xoné! Ahahahahahah!
"Passeante jerkbait aleijado" na água e toca a pô-lo a mexer! E não é que até enganava bem! Com uma recolha mais rápida do que num verdadeiro passeante (este era um jerkbait afundante) e com a cana na vertical e toques fortes de ponteira, lá vinha o "peixinho ferido", ora na superfície ora meio mergulhado, mas sempre a lançar bons splashes de água na superfície.
Fiquei incrédulo e até gelei quando logo a seguir ao passar de uma onda, vislumbro um vulto enorme e negro a perseguir a minha amostra! Contrariamente ao que faço habitualmente e dadas as circunstâncias desta amostra "especial" não pude parar a animação (ou a amostra afundaria). Em escassos segundos aquele robalão negro ataca, dá uma estalada valente com o rabo na superfície antes de disparar rumo ao fundo, o drag (talvez mais fechado do que devia) chora num ruído único, grave e seco... uma tolada daquelas que não se esquecem e... xauzinho! Da satisfação por ver um bicho dos que não se vêem todos os dias e da adrenalina da perseguição e ataque à frustração por não conseguir ferrar bem ferrado aquele troféu, foi um instante! Tantas asneiras disse! Porque é que não tinha levado pelo menos um das dezenas de passeantes que tinha em casa! Com um passeante normal tinha-o parado na altura em que vi a perseguição e aquele robalo tinha-o engolido todo!... Tarde de mais, nada a fazer. Ficará a lembrança e a lição. Da próxima, não faltarão com certeza amostras de superfície. Aquela água morninha merece.
Com uma grande cabeça e depois da verborreia me permitir destilar o fel com que fiquei, acabei por mudar de amostra, não fosse ter mais dissabores parecidos. O sol já estava alto quando ferrei eficazmente num jerkbait (com palheta! Ahahahahaha!) um robalo bem mais pequeno, mas ainda assim lutador e agradável de pôr a seco.
Estou de volta!