Sou do tempo em que as corridas de bicicletas, e em especial
a Volta a Portugal, enchiam as ruas e estradas do nosso país de milhares e
milhares de pessoas vibrando com as fugas e vitoriando os seus ídolos. É
verdade que nessa altura os três principais clubes tinham as suas equipas de
ciclismo e a rivalidade clubística vivia-se em cada reta ou nas curvas mais
sinuosas. Lembro-me de esperar pelo pelotão na Avenida Fernão de Magalhães, com
o ouvido colado a um rádio, sempre na esperança de que à cabeça viesse um
ciclista com as cores azuis e brancas, para correr depois para o estádio e
poder, assim, assistir ao sprint final e à consagração do vencedor. A camisola
amarela - a mais desejada – era a última a ser envergada na cerimónia do
pódium. Depois tudo acabava, até à partida do dia seguinte. Foram dias felizes
esses em que o ciclismo chegava até à porta das nossas casas!
Lembrei-me disto quando no último domingo fomos pescar para
um dos poucos rios do Norte do país bem conservado e com lotes especiais. Uma
pesca há muito desejada, mas que só agora pôde ser concretizada face aos
afazeres profissionais do Pedro e do Sérgio e, principalmente, pelo muito
trabalho caseiro que as duas gémeas dão ao Sérgio e à Nádia. Dão trabalho a
dobrar, mas a Felicidade é também muito grande!
Bom, e a que propósito é que falei de ciclismo e de camisola
amarela? A culpa foi do Pedro, que me acusou de ser “o camisola amarela”, por
andar sempre na dianteira enquanto subíamos pelas margens do rio. É claro que
se tratou de uma acusação injusta, já que é impossível andar sempre na dianteira, embora admita que
fiz o possível por liderar o pelotão!!! O que só prova a minha boa capacidade
física, apesar dos 62 anos…
Quanto à jornada de pesca é importante referir que o dia se
pôs de feição, apesar de alguns aguaceiros fortes. O caudal era forte e a água
nas primeiras horas estava bastante turva. Mas os peixes responderam
positivamente, dando razão aos conhecedores daquele rio que sustentam que os melhores
dias para lá pescar são os de chuva…
No total pescamos 10 trutas, todas devolvidas à água em
excelentes condições, até porque o lote em que pescamos está destinado a pesca
sem morte. Um dia virá em que todos os lotes serão assim!
Com o título desta crónica quase seria desnecessário dizer
que o grande vencedor da jornada fui eu. O camisola amarela! Mas todos fizemos
o gosto ao dedo… E por ser verdade, importa acrescentar que fui também o
vencedor no número de amostras perdidas…
Continuei a liderar o pelotão no trajeto de volta ao carro
pela estrada nacional. Ao todo fizemos uns cinco quilómetros, em convívio e
desfrutando de enquadramentos paisagísticos deslumbrantes.
E para que conste, não fui o camisola amarela na hora de
comer. Empatamos e nem o foto-finish encontrou um vencedor!