III - PESCA EMBARCADA
O sucesso de qualquer saída para o mar depende em larga medida da qualidade do mestre da embarcação. É claro que há dias melhores, outros piores, mas o que mais desespera um pescador é ver o desinteresse e a falta de profissionalismo do mestre. Nas Flores encontramos o sr. Vasco e o seu filho Diogo como anfitriões. Pessoas de grande educação e hospitalidade, bem dispostos e grandes profissionais. Sempre disponíveis para corrigir posições, procurar novos pesqueiros, insaciáveis na procura dos peixes. Há muito que pesco no alto-mar, mas nunca tinha encontrado mestres tão competentes! Muito obrigado pela vossa paciência e competência!
Com estas condições reunidas, foi fácil até para um cota inexperiente nas andanças do jigging, como eu, experimentar novas sensações de uma pesca radical. O jigging pratica-se com aparelhos de peso variável (em média 150 a 200 gramas) feitos de metal, que se deixam cair na vertical. Mal tocam no fundo são recolhidos rapidamente e com constantes sacões. Trata-se de uma modalidade muito exigente do ponto de vista físico. O braço que segura a cana é o mais atingido, em especial a mão e o ombro, mas a outra mão – a que corrica – não escapa a umas bolhas valentes... Agora imaginem fazer isto durante cinco ou seis horas, de pé, sempre em equilíbrio instável... É obra. Só que vale a pena!
Para os predadores das águas açorianas os jig`s de cores variadas, alguns adornados com imitações de pequenos polvos, são irresistíveis. É uma sensação única o momento em que um peixe contraria a nossa ação de recolher a amostra na vertical em grande velocidade e com esticões com a sua vontade de comer. Trata-se de um impacto espetacular, maior quando o ataque ocorre com determinadas espécies e perto do fundo.
Nos dois dias que saímos para o alto-mar tiramos muitas bicudas, anchovas, serras, pargos, meros, cavalas e garoupas.
Tudo momentos especiais pela luta proporcionada, pelos arranques inesperados, pelo barulho do drag dos carretos a ceder às investidas desesperadas dos predadores.
É claro que entre tantos ataques e entre tantos peixes ficaram alguns episódios curiosos, que merecem ser relatados.
O objetivo do Pedro nesta ida às Flores era sacar um lírio. Conseguiu-o no Porto das Lages, ainda que com um exemplar pequeno, mas que deixou perceber a sua combatividade. No alto mar, logo no primeiro dia, tive um lírio bem preso. O ataque foi demolidor, a cana vergou completamente e os sacões eram fortíssimos; tive de abrir um bocadinho o drag do carreto , para ouvir então o “cantar” do aparelho, uma melodia que não mais vou esquecer! Com as indicações do Pedro e do sr. Vasco lá fui conseguindo recolher a linha, sempre alerta para os arranques do lírio. No entanto, quando o peixe estava a poucos metros da superfície, e sem nada que o fizesse prever, acabou por se soltar. Era um lírio com cerca de oito, nove quilos, segundo a opinião avalizada do sr. Vasco, que o chegou a ver, tal como eu e o Pedro, que estava a filmar.
Outro episódio curioso ocorreu com o Pedro. Estava a mandar a linha para o fundo, quando estranhou uma súbita paragem. Perguntou se estavamos a pescar a uma menor profundidade e perante a resposta negativa tratou de recolher a amostra. Só que tinha sido arrancada, ou melhor cortada, pela linha de fluorcarbono de 0,80 mm! A explicação foi dada pelo sr. Vasco – ao descer as amostras para o fundo, os anzóis tendem a vir para cima e ficar ao nível da linha de combate. O mais provável é que um wahoo (peixes enormes e altamente valorizados na pesca desportiva) tenha atacado a amostra e cortado a linha como um lâmina, graças à sua fileira de dentes impressionante!
Um último caso aconteceu comigo. Rebocava uma cavala média, já perto da superfície, quando tive um valente susto. Um vulto surgiu do nada, das profundezas do Atlântico, e seguia a minha desgraçada cavala. Não teve tempo para a atacar. Felizmente, para mim, porque era um monstro e de início julguei tratar-se de um tubarão. A meu lado, o sr. Vasco repetia admirado: “Há muitos anos que não via isto. Há muitos anos que não via isto”. Depois explicou que era um atum albacora que se preparava para comer a cavala. Um atum que, na sua opinião, teria entre 45 a 60 quilos! Como comentou o Pedro e com razão: “Aqui os predadores transformam-se rapidamente em presas”.
Como conclusão posso garantir que a pesca ao jigging é muito interessante, desde que haja predadores na zona. É um tipo de pesca extenuante que exige uma excelente condição física. A prática ajudará muito o desempenho, mas mesmo iniciados como eu - e cota – podem obter bons resultados. Uma escolha de jig menos exigente do ponto de vista físico e um bocadinho de sorte e as deficiências de técnica podem ser superadas. Mesmo assim tenho de reconhecer que dá gosto ver a técnica apurada dos amigos de Lisboa, que são habitués nas Flores, e também do meu Pedro, que rapidamente apanhou o jeito!
boas amigos
ResponderEliminarnão tenho palavras
loucura
abraço
Fonix, isso é que foi um grande treino às costas eheheheheheh.
ResponderEliminarGrandes relatos, não á palavras, tudo 5*.
Abraço
Belos momentos...
ResponderEliminarAssim com esses mares vale a pena e claro com bons mestres...:)
Já deves ter marcado as próximas férias!:)
Abraço
Boas José Pedro,
ResponderEliminarDepois de ver estes peixes dá vontade apanhar um avião já amanhã lol
Parabéns, são realmente magnificas capturas, pelo que se pode ver foram momentos fantásticos, imagino que o pior deve ser termos que regressar a casa lol
Um abraço!
Maravilha de relatos e pescarias de luxo. Que mais se pode crer numa viagem Com o objectivo de pescar? Mais uma vez, sem palavras! Brilhante.
ResponderEliminarGrande Abraço.