Há uns meses largos que não ia a S. Jacinto e, embora as condições metereológicas não fossem as ideais, decidi ir fazer uma visita ao local. No dia anterior ainda tentei desencaminhar os meus compinchas, mas acabei por ir sozinho... Estava a precisar de pescar, de ter umas horas de paz junto ao Mar.
Eram 7 da manhã quando saí de casa, como faço num dia normal de trabalho, mas a distância a percorrer era bem maior que a do dia-a-dia. Consegui atravessar o Porto sem grandes filas e apenas parei para meter gasóleo, enganar rapidamente o estômago e comprar isco (casulo, navalha e caranguejo).
Chegado a S. Jacinto palmilhei o extenso areal até ao paredão, onde a ria desagua no mar. Apesar de muito cansativo, tinha muitas saudades daquele passeio e daquela paisagem virgem. Naqueles 30 minutos de caminhada solitária vêm à cabeça tempos idos de pescas gloriosas, mas também os nossos primeiros chaços atolados na areia! A companhia que tanta falta me fez é sempre recordada e a sua falta sentida - a pesca nem é a mesma coisa... mas já ali estava e ia fazer-me bem ao espírito.
Escolhido o local para sujar as mãos com isco, toca a montar a primeira cana e a lançar a primeira iscada com casulo. Mal pouso a cana para montar a segunda, levo uma bardoada com a marca sargo, das que já não sentia há muito. Infelizmente, quando voltei a pegar nela, já o anzol vinha limpinho. Fiquei logo electrizado, pois quando os sargos lá andam é um fartote! Volto a iscar, novo lançamento e cana na mão à esperinha de lhes dar nos dentes. Mal a linha estica na corrente, zás! Ferro eficazmente e lá vem o meu primeiro sargo a chegar e eu a vê-lo brilhar aos meus pés naquela água barrenta, quando numa das muitas turras o fluocarbono (ferido no lançamento anterior) parte. Fico eu a falar sozinho e a culpabilizar-me por não ter mudado o tenso coçado, quando ouço uma voz a chamar-me: "Não pode pescar aqui enquanto os camiões estiverem a passar com pedras, é pela sua segurança". Apesar de educado e de estar a cumprir a sua função e a zelar por mim, naquele contexto fiquei danado! Depois de me levantar cedo como num dia de trabalho, de fazer uma viagem de mais de 1 hora de carro, palmilhar 30 minutos pelo areal e nos dois primeiros e únicos lançamentos perder dois peixes, tive de acatar a ordem e sair dali. Toca a andar mais 15 minutinhos paredão fora, até um local sem tráfego.
Pelo caminho, com o sol a bater-me na pele e a nortada quase a arrancar-me o chapéu mas a varrer-me do cérebro as preocupações do dia-a-dia de trabalho, voltei à estaca zero - vontade de ali estar, fosse mais para a frente ou mais para trás.
Isquei e lancei a cana já usada e, enquanto montava a outra, via-a a dar os primeiros sinais de peixe. Os toques, ferragens, peixes pescados, peixes libertados (por serem pequenos), foram-se sucedendo e animando a minha manhã. Os sargos não eram grandes, mas não me davam descanso. Os sargos e os anzóis perdidos graças aquele fluorcabono foleiro que comprei no dia anterior.
Com o fim da maré, a actividade do peixe baixou. Tinha boas expectativas para esta fase do dia, com o sol ao alto e a maré parada e isquei com navalha na tentativa de enganar umas douradas. O tempo ia passando e nada, até que numa das canas sinto uns toquezinhos subtis, de faca e garfo... pensei para mim: "Olha uma douradinha"! Aguardei com calma até ao toque que fez vergar a cana e levantar o meu stella do chão! Grande trolitada e que força fazia com cabeçadas em direção ao fundo! Abri a embraiagem e trabalhei o peixe até à beirada e nunca mais o via brilhar como desejava... só imaginava o belo do fluocarbono a partir... Alturas tantas, em vez do brilho que tanto almejei, vejo uma bruta duma "cobra" a chegar às rochas! "Que azar do carago! Já não bastava não ser uma dourada, era um puto de um safio enorme"! Como estava a cerca de 3 metros acima do nível da água, muito embora as pedras por baixo estivessem a seco, pousei o safio numa delas, baixei a ponteira da cana e estiquei a linha e icei o peixe. A meio da viagem o super fluocarbono partiu uma vez mais! Olho para baixo e lá estava a "cobra" encostada ao paredão, a seco. Embora não a quisesse trazer para casa, pois é peixe que não aprecio, queria tirar-lhe uma foto pois tinha seguramente mais de 1 metro! Pousei a cana e desci o paredão a correr, mas quando cheguei ao local da queda, zerinho! Já se tinha metido num dos muitos buracos, mesmo a seco, entre pedras e algas! Durante uns 10 minutos ainda vasculhei com algum medo os buracos, mas o medo de levar uma ferradela fez-me (corajosamente) desistir.
Ainda pesquei mais 3 ou 4 sargos na primeira hora de enchente, mas dei a pesca terminada com 5 sargos no saco e um dia bem passado.
Os dias bem passados a pescar, se possível com Família e Amigos, sempre foram o motivo deste blogue. As grandes pescarias que muitos (apenas) vêm espiar para ver os spots, amostras, etc, etc, etc... acontecem quando acontecem, fruto da nossa insistência.
Ponderei fechar o blogue por causa dos "espiões", pseudo-pescadores, que aqui vêm muitas vezes provocar, insinuar e até insultar. Na verdade, seria dar-lhes a importância que não têm. Resolvi seguir os conselhos do meu Amigo Cuco e voltar a abrir a todos o acesso, vivenciando a Pesca como sempre - com paixão, como espero que este relato e o blogue de uma forma global espelhem.
Aquele abraço!