Foi o regresso à fórmula original, por desencontro de datas e disponibilidades desfasadas. A verdade é que desta vez a "expedição" ao Faial contou apenas comigo e com o meu filho, Zé Pedro. Dos outros ficou a sensação de perda e a sua ausência fez-se sentir todos os dias. Fica para a próxima nova investida do Peixoto, Urubu e do King e, quiçá, a estreia do Sérgio e do Tiago!
Madrugada bem cedo partimos de Pedras Rubras, rumo a Lisboa, com uma escala de duas horas, que se prolongou para mais do dobro, devido ao atraso com que o avião que nos ia transportar até à cidade da Horta chegou de Atenas, e depois com a confirmação de que a referida aeronave tinha um problema técnico, que impedia a sua utilização de imediato. Com todos estes contratempos, que enervam ainda mais quem sente um "friozinho" por andar de avião (não é Pedro???), só levantamos voo, noutro aparelho, quando já devíamos estar a aterrar no Faial...
A viagem correu bem e até deu para recuperar algum do atraso. Gostei especialmente da capacidade do piloto, que conseguiu uma aproximação espetacular à pista, apesar do teto fechado e dos ventos fortes. Só vimos a pista escassos segundos antes de a tocarmos e isto sem quase qualquer turbulência.
Já em terra e com a viatura alugada à nossa disposição, decidimos rumar de imediato para o Varadouro, porque já conhecíamos o hotel onde ficamos alojados e porque queríamos tentar alugar um barco para uma ou duas saídas para o alto mar. Acabámos por almoçar bastante tarde no restaurante Bela Vista, onde nos facultaram o contacto com um jovem que se dedica ao mergulho e ocasionalmente a saídas de pesca.
No Varadouro, demos conta de que o mar estava a fazer jus à fama das ilhas açorianas - batia forte e estava bem crescido, o que para nós foi uma (má) novidade e que contrastou com as duas experiências anteriores...
Depois de uma breve passagem pelo hotel, para fazer o check-in, e para uma desilusão ainda maior que o mau estado do mar - refiro-me à derrota de Portugal na Rússia - fomos até Porto Salão, no extremo oposto da ilha, verificar como estavam aí as condições e ensaiar os primeiros lançamentos. Devo relembrar que Porto Salão é um pesqueiro que fica na base de uma arriba imponente, a que se tem acesso através de uma inclinada descida. Também aqui o mar não estava para brincadeiras, com ondas de três a quatro metros que rebentavam ostensivamente na costa rochosa, provocando imensos espumeiros. Neste local, nas visitas anteriores, tínhamos sempre sido felizes com algumas capturas. O Pedro tinha fisgado mesmo a sua primeira bicuda neste pesqueiro, e por sinal bem graúda. Só que as condições de mar e de vento impediam agora de pescarmos para o lado esquerdo, ficando apenas disponível a baía mais calma situada à nossa direita. Aproveitando a baixa-mar, o Zé Pedro - naturalmente mais afoito - ainda fez algumas incursões em terreno "perigoso", experimentando os vinis, os popers, os passeantes e diversos tipos de outras amostras, tudo sem sucesso. Eu comecei com um bucktail jig, sempre batendo a baía mais recatada. A determinada altura, o Pedro recomendou-me que trocasse para uma amostra azul, tipo sardinha. Foi remédio santo! Num dos lançamentos paralelos à linha de costa, senti o ataque de uma bicuda, que assomou mesmo à superfície. Foram alguns minutos de emoção, mas com a ajuda do Pedro consegui trazer o peixe (um bonito exemplar) até à zona onde se recolhem os barcos e depois, com ajuda de uma onda, colocá-lo a seco. O Pedro encarregou-se de o ir buscar, com todo o cuidado para evitar cair numa zona íngreme e muito escorregadia... A noite tinha entretanto caído e demos a sessão inaugural por encerrada! Para estreia não tinha sido nada mau... E estreia é a palavra adequada, porque esta bicuda foi o meu primeiro peixe a pescar da costa ao spinning!
No dia seguinte, o projeto era arrancarmos do hotel ainda de noite, mas o cansaço acumulado na véspera e a má programação dos telemóveis, provocaram um atraso significativo na partida. Escolhemos então outro pesqueiro, já conhecido, o chamado Porto Comprido, mesmo ao lado do famoso vulcão dos Capelinhos.
E se no dia da chegada tínhamos acabado em beleza, o segundo dia começou da mesma forma, com o Pedro a fisgar logo no primeiro lançamento uma outra bicuda! Só que esta entrada de leão não teve continuidade, muito por culpa do mar, que começou a crescer e a inviabilizar alguns pesqueiros. Mesmo assim, o Zé Pedro ainda sentiu um forte ataque, possivelmente de uma anchova, que destroçou um vinil, deixando bem vincadas as suas dentadas...
Após o almoço, em que degustámos a bicuda pescada no dia anterior (por sinal um peixe bem saboroso), decidimos experimentar a sorte do outro lado do Canal, imortalizado por Vitorino Nemésio. Apanhámos o "Cruzeiro das Ilhas" e meia hora depois já estávamos no Porto da Madalena, na ilha do Pico. Relatos anteriores diziam-nos que se pescava no próprio porto e com bons resultados. Como tínhamos pouco tempo (o barco de regresso partia às 18 horas e era o último do dia) decidimos ficar mesmo pelo porto, até porque todos a quem perguntávamos eram unânimes em apontar o molhe oposto ao da chegada do barco como o melhor local para fazer spinning. Durante cerca de hora e meia experimentámos amostras, vinis e bucktail jigs e a verdade é que tivemos bons ataques e tanto eu como o Pedro tivemos peixes presos, que acabaram por se soltar. Além disso, testemunhámos várias vezes a perseguição das amostras por diversos peixes, muito provavelmente anchovas. O Porto da Madalena ficou na nossa memória e é um local a explorar com mais tempo, de preferência ao nascer e ao pôr do sol...
No domingo, confirmada a impossibilidade de sairmos para o mar por falta de barco e também por causa da ondulação, decidimos começar bem cedo, ainda de noite, novamente no Porto Comprido. Era dia de eleições regionais nos Açores e até parece que os peixes que procurávamos também tinham sido convocados para assessorar no ato eleitoral... Mesmo assim ainda sentimos alguns ataques, sem concretização. A meio da manhã, decidimos experimentar outro pesqueiro - o Porto da Eira - bem perto de Porto Salão e tal como ele localizado na base de uma arriba impressionante, o que não afasta os veraneantes na época de calor das suas famosas piscinas naturais. Chegados ao pesqueiro encontramos um pescador desportivo local, que se preparava para pescar ao fundo, com sardinha, já que a pesca à bóia era impossível dado o estado alteroso do mar. Experimentámos vário material sem sucesso e começámos a apreciar a técnica do nosso improvisado companheiro de pesca, que rapidamente juntou vários sargos, de porte apreciável! Ainda me cedeu anzóis, chumbeiras e linha para fazer o gosto ao dedo. E com sucesso, já que tanto eu como o Pedro ainda sacámos alguns (bons) sargos.
Depois do almoço, no carismático bar do Peter, mesmo frente à marina da Horta, passámos por uma loja e compramos material de pesca para o fundo e rumámos uma vez mais até Porto Salão. Tinha ficado com o gostinho dos sargos e eu adoro a pesca ao fundo... Chegados ao pesqueiro encontramos uma senhora, que se revelou uma exímia pescadora. Acreditem que tinha uma boa safra de sargos, pescados com peito de... frango!!! É verdade, tal como é também verdade que o engodo é feito com sardinha e com... pão, que serve igualmente de isco para pescar tainhas... Outros locais, outras técnicas...
Esta última sessão de pesca proporcionou bons momentos, alguns peixes e um ENORME (esta palavra foi posta em voga pelo Ministro das Finanças...) SUSTO. Passo a explicar - ainda apanhei alguns sargos jeitosos ao fundo, enquanto o Pedro voltou a sentir ataques nas suas amostras, em particular no vinil azul, que ficou totalmente destroçado. Quando o sol já se punha, e por sugestão do Pedro, trocamos de canas e fiz alguns lançamentos com o referido vinil. À segunda tentativa senti um toque e dei conta de imediato ao Pedro, que me aconselhou a tentar ferrar o peixe em caso de novo ataque. E não é que houve mesmo... Ferrei o peixe e notei que a luta era diferente da bicuda. Mais força e mais irreverência. Era uma anchova, como pudemos confirmar quando o peixe se aproximou. Foi nessa altura que apanhámos o tal valente susto - o Zé Pedro para filmar a captura e me ajudar a sacar o peixe, aproximou-se da borda da água e entrou na zona escorregadia a filmar, acabando por cair desamparado, de costas, sobre os trilhos de madeira cravada no cimento e na pedra, que facilitam a retirada das embarcações do mar. Foi uma queda feia, que me deixou arrepiado e preocupadíssimo. O Pedro levantou-se de imediato e ainda tentou apanhar a anchova, que eu entretanto perdera por me ter desinteressado até da cana...
Apesas das dores nas costas e dos ferimentos nos braços e numa mão, o Zé Pedro ainda fez alguns lançamentos. Sem sucesso.
O regresso no dia seguinte fez-se sem complicações e curiosamente a maior turbulência que sentimos foi no trajeto Lisboa/Porto. Nesse mesmo dia, as radiografias feitas pelo Pedro garantiram que não havia qualquer fratura ou fissura. Mas as dores essas continuaram e servem de aviso para os perigos que a pesca comporta. Esta é uma atividade de lazer e convém ter sempre presente que nada, nem ninguém, deve sobrepor qualquer ação à SEGURANÇA!
Termino com uma citação do meu filho no seu último post, antes de partirmos para os Açores:
"Uma coisa é certa e sabida - vou com o meu Cotinha e essa é e será
sempre uma realidade mágica, sem preço, com satisfação garantida!"
Antes de qualquer outra coisa, qualquer amostra (boa ou má) pesca o pescador. Muitas, mesmo nas melhores mãos, não pescam muito mais do que isso.
Na realidade, uma amostra pode dar-nos grande prazer mesmo sem tirar peixe... pelo menos a mim dá. Vejo-me sentado, depois de um longo dia de trabalho, a equipar algumas amostras em que deposito mais fé, com fateixas novas. Já passa das 3 horas da manhã e daqui a nada tenho de me levantar para ir trabalhar e pareço um menino a quem deram um brinquedo novo. É com imenso prazer que olho vezes sem conta para estes 3 poppers, acabadinhos de equipar a rigor com triplos Owner ST-66, tamanho 2/0. Contemplo-os e imagino o seu trajecto nas águas Açorianas aos repelões a ser brutamente interrompido por um daqueles peixes "malignos"!
Estas já vão para o porta-amostras, para junto das "primas" - os jerkbaits e passeantes dos robalos que também tiveram direito a upgrade.
Os jigs que estão guardados desde há mais de um ano, quase novos, com a mesma esperança que na primeira vez, também vão a banhos. São mais imponentes, duros, mas igualmente bonitos, de cores vivas e com holográficos chamativos. Antes de mais nada, capazes de pescar qualquer pescador! Pego nos "assist-hooks" 12/0 para os equipar e até me dão arrepios! Será que será desta que vão cravar o lírio que há muito tempo desejo? Preparo-os com todo o cuidado, admitindo que pode até acontecer e nessa ínfima probabilidade quero estar bem preparado.
Ainda aqui tenho uns vinis grandes, umas zagaias matadoras de robalos, uns chivos velhinhos... não posso deixar de os levar comigo para mais uma viagem de pesca! Afinal, se nada resultar, sempre são alternativas a exponenciar a nossa fé...
É impressionante como a magia desta preparação nos faz voar, pára o tempo e a imaginação não tem fim! Isto também é pesca. É nestas alturas em que - pelas suas cores garridas, formas realísticas, diversidade... - mesmo amostras que não pescam um peixe (seja por que motivo for), valem o dinheiro que investimos nelas!
A Pesca com amostras é um mundo de ilusões... e é muito bom sonhar!
Agora vou guardar tudo muito guardadinho, porque na Sexta-feira já é dia de viagem para os Açores!
Já só faltam chegar uns bucktail jigs e o material está pronto.
Vamos lá a ver se algum sonho se torna realidade!
Uma coisa é certa e sabida - vou com o meu Cotinha e essa é e será sempre uma realidade mágica, sem preço, com satisfação garantida!