Gosto cada vez mais de ir à pesca! O desejo de estar perto do Mar é cada vez maior. Não sei se passou de um gosto a um vício ou obsessão. A verdade é que é das coisas que mais prazer me dá e desde que não condicione as outras actividades do dia-a-dia (o que por vezes chega a acontecer) é super saudável. Como tudo o resto na vida, sem exageros!
Mais importante do que pescar (entenda-se, tirar peixe) é ir à pesca. O próprio ritual que envolve o "ir à pesca" é viciante: o preparar as roupas, a cana e o carreto, escolher as amostras em que temos mais fé para aquele dia, escolher o "spot" ...
Para além dos rituais, temos o elemento chave - a incerteza. A incerteza é o sal da pesca. Mesmo num mundo tecnológico em que temos previsões diárias, quase ao minuto, dos parâmetros metereológicos, felizmente nem sempre estão certos! Felizmente, porque caso contrário, muitas das vezes que saídos de casa para nos encontrarmos com um grupo de Amigos junto ao Mar prevendo que estará "bom tempo" e não está, se o Windguru não se tivesse "enganado" esse encontro não teria tido lugar. Por outro lado, existem aqueles dias em que as previsões nos dizem para ficar em casa e o nosso "feeling" diz o contrário e acabamos por dar de caras com um belo robalo.
A maior incerteza relaciona-se com a presença de peixe no local escolhido. A escolha do "spot" é, para quem de facto gosta de ir à pesca, outro momento de fé e de "feeling". Predar um dos maiores predadores da nossa costa tem muito de sorte, mas também de saber - o saber acumulado ao longo de muitos dias de pesca, de muitas insistências, de muita observação e acima de tudo, de muitas grades.
Há uns dias atrás, depois de 1 mês e 4 dias sem sentir um peixe apesar de várias idas à pesca, tive o prazer de ferrar um bonito robalo.
Já insistia naquela praia há cerca de duas semanas e apesar das grades sucessivas mantinha a vontade de lá voltar. Tentativa aqui, tentativa ali, lanço num spot complicado pela primeira vez. Encontrava-me em cima de uma pedra alta e com muitas pedras pela frente, algumas emersas e muitas outras ainda cobertas por água. Acabo de fazer o lançamento e penso na melhor maneira de trazer um peixe até mim caso tivesse a felicidade de o enganar. Não seria fácil certamente pois a corrente era forte e tinha muitos caneiros para "guiar" o peixe. O lançamento foi em frente e recolhi a zagaia, bastante empurrada pela corrente, à minha direita, depois de ladear um maciço rochoso. O meu Amigo Xavier, que tinha encontrado ao chegar à praia, sugere que mudemos de sítio uma vez mais, pois aquele já tinha pouca água. Peço-lhe para fazer apenas mais um lançamento. A amostra cai uns metros mais à esquerda que o primeiro. Começo a corricar e sinto um toque que parecia numa pedra; estico a linha e já estava ferrado! Chamo o meu Amigo e ele pousa a cana e vem logo para perto de mim. Ainda bem, pois o peixe nadou de imediato para a rocha ilhada na minha frente, do lado oposto a mim, impossibilitando-me de corricar mais linha, que já estava a roçar a pedra. Com o braço que agarrava a cana no ar e todo esticado, tentando evitar que a linha rebentasse, pedi ao meu amigo que avançasse nas rochas para lhe passar a cana e tentar avançar pelo caneiro de água que nos separava. Assim foi. O Xavier atravessou o caneiro, passei-lhe a cana sempre com o cuidado de manter a linha tensa e sem nunca ter deixado de sentir as "turras" do peixe e passei para essa pedra onde viria a ser mais fácil para mim corricar o peixe, com melhor ângulo para o fazer atravessar com uma onda através de uma fenda na rocha ilhada. Quando isso aconteceu, vimos o peixe pela primeira vez à nossa frente e era maior do que aparentava. O Xavier gritou "abre o drag!", mas poucos segundos depois tinha o robalo aos seus pés.
Desta vez valeu-me a ajuda do meu Amigo, o terminal 0,50 de monofilamento (mais resistente que o multi à abrasão provocada pela rocha) e o meu conjunto de pesca renovado há meses (para durar uns anos): Lesath Power Game 3,30m e Stella 5000 SW.
Deu-me ainda mais prazer ter tirado este bonito exemplar num local que fui explorando e conhecendo pouco a pouco. Foi também um estímulo para muitas mais grades... ou não... porque em todas elas aprendo sempre mais alguma coisa, quanto mais não seja novos nós, sempre que vou com o Jerbas ou com o Varadas. E não foi a sucessão de grades que me fez (nem fará) deixar de ir à pesca! Eu gosto mesmo é de "IR À PESCA" e não necessariamente de tirar peixe... mas que sabe bem, lá isso sabe! Fica o sal (a incerteza) das próximas pescas...