domingo, 31 de outubro de 2010

Domingo. 24 de Outubro - UMA BICUDA COM PIERCING

No domingo, dia 24 de Outubro, tínhamos a última oportunidade de tentar a sorte nas costas da ilha do Faial. Apesar do cansaço da véspera, levantámo-nos cedo e decidimos conhecer o ex-libris do Faial, ou seja a sua cratera central. Foi uma viagem curta, porque as estradas estão em excelente estado, apesar de serem naturalmente bastante sinuosas. Encosta acima, fomos apreciando a paisagem e em determinados locais pudemos mesmo vislumbrar três das quatro ilhas do grupo central – Faial, Pico e S. Jorge. Depois a temperatura foi descendo, quase em simultâneo com o aumento da intensidade do vento, sinal de que nos aproximavámos do topo do vulcão e da respectiva cratera. Imperturbáveis às alterações metorológicas, as vacas lá continuavam a pastar livremente, uma expressão que é um pouco forçada, dado que em muitas situações parece ser um suplício para os pobres bichos manterem-se em equilíbrio em encostas de declive muito acentuado.

Chegados à cratera, demos por bem empregue o tempo gasto na viagem. É uma paisagem impressionante! O vento, que soprava forte de sul, quase tornava mais dantesco o cenário de uma Natureza pujante, imprevisível, mas que afinal está na origem deste recanto maravilhoso como é o arquipélago dos Açores.

Depois do almoço, iniciámos a viagem até Porto Comprido, junto ao vulcão dos Capelinhos, a última manifestação de actividade vulcânica nos Açores. Dois dias antes, o Pedro tinha gostado do local e tinha fisgado uma anchova. Desta vez, fiz-lhe a vontade e também eu aderi ao spinning, ainda que optando por montar uma zagaia. Fizemos alguns lançamentos, mas rapidamente nos apercebemos que o vento sul tinha tornado este pesqueiro impraticável. A decisão foi óbvia e invertemos o caminho do segundo dia de pesca – agora rodeavámos a ilha, seguindo para Porto Salão, na parte norte. A viagem foi curta, embora o movimento fosse mais intenso, ou não fosse domingo. Quando chegámos ao local, notámos que havia mais carros estacionados. Na descida vislumbrámos um grupo de mergulhadores que retiravam das águas do oceano um pequeno barco de fibra. Tinham estado a mergulhar nas proximidades e regressavam com uma pescaria interessante de vejas, sargos, salemas e garoupas. Mas o que mais me impressionou foi o esforço físico quase sobre-humano que foi necessário despender para transportar o barco pela íngreme encosta. Mentalmente, o meu pensamento virou-se para os pescadores profissionais que ao longo de décadas tiveram de fazer percursos semelhantes para ganharem a vida. Uma vida difícil que molda o carácter e enobrece o espírito...

Informados do que pretendíamos, os mergulhadores locais lá nos deram as indicações dos melhores locais para o lançamento das amostras. Eu continuei fiel às zagaias, ainda que sem grande sucesso. Ao fim de alguns minutos, já cansado, renunciei à pesca e fiquei a observar a tenacidade do meu filho na arte do spinning. A determinada altura virou-se entusiasmado e garantiu-me que uma bicuda tinha perseguido a amostra mesmo até ao local onde estava. Voltou a insistir, mas sem resultados práticos. Foi, então, que lhe sugeri que experimentasse as amostras passeantes. Sugestão que foi aceite e poucos lançamentos depois ouvi o Pedro gritar: “Que grande ataque falhado de um bicuda!” Reforçado no seu ânimo, lançou para o mesmo local e começou a recolher. Eu próprio não desviava os olhos da amostra, queziguezagueava na tona da água. “Foi por aqui que a outra atacou” – murmurava o Pedro. E tinha razão, já que presenciei um ataque fulminante de uma grande bicuda que saiu praticamente toda da água para atacar a amostra. “Essa já está! – gritei, instantes antes do Pedro sentir na cana e no carreto a violência do ataque. Concentrado na luta, o Pedro só murmurava que o peixe lhe estava a levar a linha toda do carreto. Lentamente, porém, a bicuda foi perdendo energia e o Pedro pôde recolher a linha, numa acção de grande paciência, entrecortada por ataques cada vez mais fracos e menos frequentes. Ao fim de cerca de 10 minutos, o peixe estava exausto, já só quase boiava e pôde ser colocado sobre uma rocha. Foi, então, que cometi um erro involuntário. Para poder descer umas rochas perigosas e chegar à bicuda, o Pedro passou-me a cana, que segurei numa mão, enquanto a outra continuava a filmar toda a acção. Em breves instantes, não me apercebi da chegada de uma onda, que levantou o peixe e o fez deslizar por uma fenda. O Pedro reassumiu, então, a acção de pesca e conseguiu, com enorme perícia, recolocar a bicuda em mar aberto. Decidiu, depois, tentar levantar o peixe recolhendo à mão a linha multifilamento. Talvez por ter roçado nas rochas cortantes, a linha acabou por ceder e a bicuda ficou solta. Por momentos ainda ficou a boiar, mas depois lá partiu para as profundezas do oceano, adornada com um piercing, de que espero se livre rapidamente. E foi assim que num curto período passei de herói a vilão – primeiro a sugerir a mudança acertada para as amostras passeantes e depois a deixar que um peixe bem ferrado e colocado estrategicamente se esgueirasse para o pior dos sítios. Vivi estes momentos com grande mágoa, porque sei que o Pedro gostaria de ter sentido nos seus braços esta belíssima bicuda com mais de 1,30 metros. O seu destino seria naturalmente a libertação, mas sem qualquer piercing... Senti mágoa pelo meu filho, mas verifiquei que no spinning, como em tudo o resto, aliás, o Pedro é um GRANDE SENHOR!

24 de Outubro de 2010 (Sábado) – O PASSEIO E UM CASO BICUDO

Na manhã de Sábado tínhamos de prolongar o aluguer do Opel Corsa mais um dia. Assim fizemos. Depois do habitual pequeno-almoço no Hotel, percorremos os escassos metros que nos separavam do centro da Horta, até ao Rent-a-Car. Meio de transporte assegurado até ao regresso ao Porto, aproveitamos a proximidade e fomos passear pela Marina da Horta. Diz a tradição que os marinheiros dos quatro cantos do mundo que lá atracam devem deixar uma pintura no cais que lhes dará sorte em viagens futuras. Por isso, aquela Marina é muito mais que um porto de abrigo; trata-se também de um museu a céu aberto.




Em seguida, resolvemos fazer uso do carro e rumar à Caldeira. Estradas sinuosas e com declive acentuado, mas com um excelente piso, levaram-nos ao nosso destino. As vistas lá do cimo sobre a própria Ilha e sobre o Pico eram deliciosas e a Caldeira grandiosa! Regressamos rapidamente ao carro pois os 12ºC e o muito vento a isso convidavam.






A caminho do Hotel ainda fizemos uma pausa no Miradouro da Nossa Senhora da Conceição e no
obrigatório Peter’s Cafe Sport.








Almoçamos e rumamos ao Porto Comprido, onde eu já tinha pescado uma Anchova no primeiro dia e o meu pai várias bogas e carapaus. Quando lá chegamos o spot parecia outro. O muito vento tinha feito o mar crescer e ambos inviabilizavam qualquer tipo de pesca, apesar de ainda temos mandado os nossos ferros (“gaias”) à água.



Demovidos do local pela intempérie, decidimos voltar a tentar a nossa sorte do lado Norte da Ilha, mais concretamente no Porto Salão. Nova ginástica à chegada para descer até ao spot. Valeu bem o esforço já que o vento não se sentia e o mar estava calmo. O meu pai dessa vez ainda pescou um tempo considerável com zagaia, mas voltou a desistir quando perdeu a primeira. Já cansado, desmontou o material, mesmo com o meu incentivo para continuar a lançar. Sentou-se perto do local onde eu me encontrava e ficou a fazer-me companhia e a ver-me pescar. Eu continuava a zero também. Já tinha experimentado quase os jerkbaits todos e tinha avistado apenas uma pequena bicuda (barracuda) a perseguir uma saltiga até aos meus pés sem a atacar. Foi então que o meu pai, após abrir e observar uma das minhas caixas de amostras, pegou num Hidro Pencil da Yo Zuri e disse: “Experimenta com esta! Vais ver que dá sorte!”. Respondi-lhe que não tinha fé nenhuma naquele spot profundo com amostras de superfície, mas como ele insistiu, acedi ao pedido.Faço o primeiro lançamento bem largo, começo a recolher e o meu pai comenta o “walk the dog”: “Essa amostra é que trabalha bem!”. Estava de facto com um nadar muito atractivo e tardaram apenas alguns segundos para avistar o ataque mais espetacular que alguma vez tinha tido à superfície! Um vulto enorme desloca-se na água em direcção à amostra e ataca-a poucos milímetros ao lado, falhando a ferragem! Paro por instantes, mais 3 ou 4 zigue-zagues, volto a ver o trilho na água, mas desta vez não ataca… Recolho os metros que ainda faltavam e faço de imediato novo lançamento mais fora do que o local onde se tinha dado o ataque anterior. Inicio uma recolha lenta mas chamativa e ao aproximar-me do hotspot comento: “foi mais ou menos por aqui que no lançamento anterior comeu…”. Quase em simultâneo, novo ataque, franco e vistoso! É indescritível ver o peixe a sair fora de água e a fazer desaparecer a minha amostra nas profundezas daquelas águas azuis! O meu pai, tal como eu, teve o prazer de ver aquele espetáculo e exclamou: “Já está!”. O meu drag confirmou-o de imediato. Se a Anchova tinha dado prazer, esta Bicuda enorme levava linha com uma força e velocidade orgásmicas! Repeti vezes sem conta que ia ficar sem linha no carreto e cheguei por 2 ou 3 vezes a ver a bobine vazia através dos poucos metros de multifilamento que sobravam. Felizmente, disfrutei aquela luta ao máximo e ao fim de alguns minutos vejo aquele peixe enorme a chegar à superfície. Os olhos e a boca cravejada de dentes afiados metiam respeito. Com todo o cuidado e sem que em momento algum a Bicuda tivesse conseguido levar a linha de encontro às rochas, consegui pousa-la já quase inanimada numa rocha a seco. Como me encontrava alguns metros acima, pedi ao meu pai que me ajudasse, mas ele tinha receio de se deslocar até ali. Entretanto, numa escoa de água, aquele peixão é levado de novo para dentro de água, onde já flutuava. Aproveito a boleia para mais perto de onde estava o meu Cotinha e coloco-a novamente a seco, já mais perto dele. Dou-lhe a cana para a mão com a linha tensa e tento descer as rochas, mas o Cotinha com a cana numa mão e a máquina de filmar na outra, deixou o peixe cair lentamente na água através de uma frincha de rocha vulcânica. Fiquei pior que estragado, depois de todo aquele trabalho! Volto a pegar na cana e sinto que o peixe ainda lá está. Consigo soltar a linha das pedras e ao ver aquele belo exemplar decido que já está filmado e a recordação bem gravada que não vale a pena correr riscos para o ter na mão. Se a cana fosse a minha (partida antes de viajar) teria tentado logo levantar o peixe em peso de início. Não o fiz logo, não o faria depois. Pouso a cana com cuidado e tento levantar o peixe em peso com a mão. Nem a cabeça chegou a sair por completo da água. A linha coçada na queda pela frincha cedeu de imediato e observei a Bicuda uns segundos deitada de lado na água, com o Hidro Pencil na boca, como que a despedir-se de mim. Aos poucos foi ganhando vida e de repente arrancou rumo ao profundo azul. Senti um misto de felicidade e tristeza. Se por um lado tinha sido uma luta inesquecível, a melhor que tive até hoje e o peixe teria sempre aquele destino, por outro fiquei triste por não o ter sentido na palma das minhas mãos, por não o ter fotografado e por não lhe ter removido a amostra da boca. Foi um caso bicudo!



Ainda fiz mais uns quantos lançamentos com outros passeantes, sem êxito. Apesar do desfecho não ser o ambicionado, foi a maior emoção que vivi até hoje a pescar ao spinning! Foi uma excelente despedida da pesca nos Açores!

Resta-me agradecer ao meu Pai a companhia, a paciência (que bem necessária foi no dia recém relatado), mas acima de tudo a partilha e a cumplicidade! Foi ele que desde tenra idade me incutiu o gosto pela pesca e é desde sempre o meu melhor Amigo!

quinta-feira, 28 de outubro de 2010

Sábado, 23 de Outubro - I'M KING OF MEROS...

O dia de sábado era o mais importante da nossa estadia no Faial. Iria ser passado quase na totalidade a bordo do barco “Faial Terra e Mar”. Depois de um excelente pequeno-almoço no Hotel do Canal, embarcámos cerca das 8,30, ainda com o sol a lançar timidamente os seus primeiros raios. O mar estava espectacular e praticamente não havia vento. O Luís, meste do barco, levou-nos praticamente para o mesmo sítio da véspera, ainda que a primeira poitada tenha ocorrido mais próxima da marina. Quanto à acção de pesca não podia ter começado da melhor forma e, apesar de uma forte corrente, o Pedro engatou logo nos primeiros lançamentos dois belos rocazes (da mesma espécie dos rascassos), peixes que são muito apreciados nos Açores, onde confeccionam uma salada, que – dizem – ser semelhante à salada de lagosta...

Neste primeiro local de pesca, ainda apareceram algumas garoupas, mas com o avanço da maré, a corrente foi diminuindo e os ataques dos peixes escasseando. Foi por essa altura que vimos ao longe alguma actividade das cagarras, indiciadora da presença de atuns ou, mais provavelmente, de bonitos. Rapidamente o Luís levantou a âncora e dirigiu o barco para o largo, enquanto aparelhavámos duas canas com iscos artificiais para o corrico. A tensão aumentou com a perspectiva de podermos “engatar” um peixe que é um lutador nato. No entanto, apesar de várias passagens, não registamos qualquer ataque, pelo que rumamos de novo para mais perto da costa e o Pedro pôde fazer alguns lançamentos com as suas amostras, num local de grande beleza onde a falésia desce verticalmente sobre o oceano. Foi quase uma hora de “spinning” sem sucesso, o que se explica pelo facto de algumas espécies migratórias, como os lírios e os írios, já terem deixado nesta altura do ano os mares dos Açores e, também, porque – segundo o Luís – a lua cheia permite a espécies como as anchovas e as bicudas estarem mais activas de noite e resguardarem-se durante o dia. A verdade é que acabamos por rumar quase ao mesmo local onde no dia anterior tínhamos pescado, apenas um pouco mais ao largo. Linhas para o fundo, começaram de imediato a suceder-se os toques, de peixe miúdo incapaz de abocanhar um anzol quatro zeros, principescamente iscado com filetes de pota e de cavala e adornado por um belo naco de sardinha. Embora incapazes de devorar na sua totalidade os iscos, esses peixes miúdos acabavam por os ir destruindo, obrigando à sua rápida substituição. Entre estes ataques falhados, ainda fomos pescando algumas garoupas e sargos. No entanto, pela minha cabeça e certamente pela do Pedro passou várias vezes a ideia de tentarmos outro pesqueiro, embora não tivessemos transmitido esta ideia ao mestre Luís. Este, como que lendo os nossos pensamentos, afirmou a certa altura que era preferível aguentar mais algum tempo no local, já que este estaria agora bem engodado e que não demorariam a chegar bons exemplares. Foi uma decisão sábia, porque tanto eu como o Pedro começámos a sentir ataques violentos a que correspondemos com fisgadas imediatas. No entanto, o resultado foi quase sempre o mesmo – sentíamos o peixe preso, vibravámos com os seus arranques, mas não conseguíamos arrancá-los do fundo, já que por regra as linhas partiam. As explicações possíveis eram a falta de jeito dos pescadores, o fundo rochoso ou o peso dos oponentes. A verdade é que só depois de seis ou sete tentativas frustradas, com a perda consequente das montagens, é que conseguimos ver a cor dos nossos “adversários”. E para que isso tivesse acontecido foi determinante a sugestão do Pedro ao pedir ao Luís tensos com linha mais grossa – se não me engano de 0,80 mm. Feita esta mudança, os resultados foram imediatos e o grande beneficiado acabei por ser eu – primeiro arranquei do fundo um lindo mero, com mais de 5 quilos, e logo de seguida fui bafejado pela sorte, cravando outro mero, avô do primeiro, que pesava mais de 12 quilos. Este último peixe constituiu uma experiência inolvidável – aquando da ferragem, a sua resposta foi avassaladora e quase me mandava à água. Depois durante alguns minutos, quase não consegui corricar o meu Stella 6000. As pernas tremiam-me, a boca ficou seca e não ouvia os conselhos e os apelos à calma dos presentes. Ao fim de dez longos minutos lá conseguimos subir a bordo este belo exemplar de mero. O meu primeiro comentário foi um explosivo “sou o Rei dos meros”, assim à imagem do Leonardo Di Caprio, na proa do Titanic, quando se auto-intitulou “I`m king of the world”!De referir que este dois peixes traziam no interior da boca alguns anzóis, cravados antes da nossa mudança de montagens – afinal eles andavam à nossa volta há já algum tempo. Depois ainda tive bem preso um belo peixe que tudo indicava ser um senhor pargo, mas que acabou por se desprender na subida. As moreias apareceram de seguida, tendo o Pedro vencido claramente nesta categoria, com um exemplar bem mais pesado que o meu. Tanto num caso, como noutro, não tivemos felizmente que içar as moreias para o interior do barco, já que o Luís se encarregou de as desferrar e de as libertar ainda na água... Pelo sim, pelo não...

A noite aproximava-se e iniciámos a viagem de regresso à cidade da Horta. Tinha sido uma jornada inesquecível. Tive a sorte pelo meu lado, mas tenho a certeza de que o Pedro ficou tão ou mais satisfeito do que eu... Afinal, pode agora gabar-se de que o seu cota é, “ad eternum” o “Rei dos Meros”!

Dia 23 de Outubro de 2010 – Sábado – O CAMPEÃO DOS MEROS!

Sábado, nascia o sol e lá partíamos nós para mais uma pesquinha embarcada que iria durar todo o dia. É muito agradável começar o dia e ver o sol irromper por entre as nuvens que pairam sobre o Pico e com os seus raios mais fortes fazem brilhar a bela cidade da Horta.



Após os bons resultados da tarde anterior, começamos por pescar ao fundo com isco orgânico. Almejavamos os famosos Pargos e fundeamos num spot mais profundo. Logo no primeiro lance apanho um belo Rocaz, um peixe lindíssimo, muito apreciado da gastronomia local - dizem que a salada de Rocaz é tão boa como a de lagosta.


As horas foram passando, fomos apanhando umas garoupas e sargos e mais um Rocaz, mas Pargos nem vê-los! O Luís pergunta-me se quero fazer uns lançamentos ao spinning perto da costa e lá fomos nós tentar a sorte. Apesar de não termos sido presenteados com nenhum exemplar nessa tarefa, quero realçar o profissionalismo e amabilidade do skipper: sabendo que eu preferia a pesca com artificiais e o meu pai a pesca ao fundo, tentou sempre conciliar os gostos distintos. Por diversas vezes, chegou ele próprio a pegar na sua cana de spinning e ir para a proa lançar um popper enquanto pescávamos ao fundo na popa. Outro bom exemplo da sua permanente disponibilidade para nos colocar sobre o peixe sucedeu após a passagem de um barco de uns amigos que afirmavam ter pescado 7 bonitos a cerca de uma milha de onde nos encontrávamos a spinnar. Estes pescadores teriam avistado as cagarras em grande algazarra, o que os fez mudar da pesca ao fundo que praticavam para a pesca com amostras, que acabou por ser profícua nas capturas. O Luís ao ouvir esta informação, colocou logo um artificial a nadar e o barco a navegar rumo às aves. De má vontade e falta de iniciativa e empenho não nos pudemos queixar, mas embarcados acabamos por não fazer qualquer captura com artificiais. Paciência! Talvez para o ano! Não foi isso que nos tirou a boa disposição!


Bem dispostos e depois de degustar as deliciosas sandes de carne assada da Susana, voltamos ao spot onde no dia anterior tínhamos apanhado os encharéus ao fundo. Inicialmente a actividade do peixe não foi tão intensa, mas à medida que fomos "engodando" o fundo com generosas iscadas, aumentou exponencialmente. Para além das habituais garoupas e sargos, pescamos uma abrótea, duas moreias e foi então que a emoção mor surgiu!



Pancadas fortíssimas após as ferragens, dobravam a cana e dificultavam a tarefa de arrancar o peixe do fundo. Por 4 ou 5 vezes, quer eu quer o meu Pai, vimos frustradas as nossas tentativas de vencer esses peixes incógnitos que rebentavam a linha durante a luta. Foi então que sugeri ao Luís que utilizassemos a linha madre também para os tensos. Sugestão prontamente aceite por ele e pelo meu Pai. Para não perder tempo, pois os ataques sucediam-se, mudei apenas o tenso de cima e mantive o de baixo (que mudaria no lançamento seguinte). O meu Cotinha, mais inteligente, refez toda a montagem e utilizou apenas um anzol com um tenso mais forte. Mal o chumbo tocou no fundo, senti nova pancada forte, ferrei e passados uns 5 segundos sinto desferrar e comento: "Aposto que rebentou o tenso mais fraco que não troquei!". Estava certo... Em seguida, o meu pai ferra um peixe. Apesar de ter comido "de faca e garfo", as pancadas que se sucedem à ferragem são violentas! Desta vez a linha aguentou-se e o meu Cotinha consegue trazer à superfície o peixe que teimava em rebentar tensos e não se deixar fotografar. Era um belo Mero!



Entretanto, a actividade do peixe cessou. Pensamos: "Anda peixe grande aqui em baixo e os pequenotes fugiram todos". Nem mais! A cana do meu Cotinha volta a ser a contemplada. Ficou-me na memória a imagem do meu pai a ferrar o peixe e quase em simultâneo, após a primeira e impetuosa pancada em resposta à ferragem, ia caindo ao mar. Era um peixe ainda mais musculado que o anterior! Já com sinais de cansaço mas com muita adrenalina, consegue colocar o peixe a seco - um imponente Mero, bastante maior que o anterior! O recém-aclamado (por mérito próprio) Campeão dos Meros comentou: "Quais pargos qual carapuça! Meros é que é!".






Com esta abada do Cotinha regressamos a terra e hei-de passar muitos anos a atura-lo por esta façanha!
Uma coisa é certa: de hoje em diante quer o Urubu, quer o Rei João, quer eu próprio, estamos determinantemente proibidos de dizer que o Cotinha só apanha mikis!

quarta-feira, 27 de outubro de 2010

Sexta-feira, 22 de Outubro - O PRIMEIRO MILHO É DOS PARDAIS…

A sexta-feira surgiu esplendorosa. Poucas nuvens e vento fraco. Os deuses continuavam connosco. Acordámos cedo e rumámos até Porto Salão, na costa norte. O acesso ao mar faz-se por uma escarpa muito íngreme, mas o local é de eleição. Trata-se de um antigo porto artesanal, que é um verdadeiro hino à tenacidade do povo faialense. É que para proteger os seus barcos, os pescadores locais têm de os carregar às costas. Para se compreender a grandiosidade da tarefa, basta acrescentar que foi penoso para mim subir a encosta apenas com o peso da cana e das amostras…
Neste local paradisíaco, fizemos alguns lançamentos à amostra e com zagaias. Não houve registo de qualquer ataque e, por isso, e também porque o mar estava invulgarmente calmo, decidimos rumar até ao Porto Comprido, paredes meias com o conhecido vulcão dos Capelinhos. Aí, voltei a optar pela pesca à bóia, tendo apanhado várias bogas, enquanto o Pedro insistia nas amostras. E com sucesso, já que acabou por apanhar a sua primeira anchova, com cerca de 2,5 quilos, que lhe deu muito trabalho. E a mim também, já que tive de correr por alguns rochedos para filmar a maior parte da acção de pesca. Mas no final valeu a pena!
Não deu para muito mais, porque tínhamos de almoçar rapidamente, para embarcamos às 14 horas. O barco do Faial Terra Mar é espaçoso, limpíssimo, e equipado com dois motores Yamaha de 80 cavalos. A viagem da marina até ao primeiro pesqueiro demorou cerca de uma hora. Deu para apreciar o canal entre as ilhas do Faial e do Pico, glorificado imortalmente pela pena de Vitorino Nemésio, espreitar a monumentalidade das escarpas que caem sobre o oceano e observar o trabalho laborioso dos ilhéus no aproveitamento das fajãs – as terras mais planas da ilha.
Quanto à acção de pesca ela decorreu muito perto do Varadouro. Fizemos pesca de fundo e spinning. Depois de apanhados alguns carapaus e bogas pequenos, pusemos uma cana a pescar à deriva. No entanto, o que mais resultou foi à pesca ao fundo. Sairam alguns sargos (não muito apreciados localmente em termos gastronómicos…), muitas garoupas (algumas bem grandes) e o Pedro ganhou claramente esta etapa ao pescar dois encharéus, com peso superior no total a 5 quilos. Apesar de eu ter pescado ainda um parguete e uma abrótea, regressei a terra com a convicção profunda, de que uma vez mais se ia cumprir o provérbio de que “o primeiro milho é para os pardais”…

Dia 22 de Outubro de 2010 (Sexta-feira) - Peixes para todos os gostos

O dia que agora vos relato foi um dia longo e cheio de emoções fortes. Teve início ainda bem cedo, por volta das 8h da manhã. Se esta hora aqui no Continente já é pouco madrugadora para pescar (mesmo nesta altura do ano), nos Açores era ainda noite cerrada.
Tomamos o pequeno-almoço no Hotel e o meu pai abasteceu bem o depósito, como em todos os outros dias! Pensei que se estivesse a encher de energia para pescar ao spinning, mas apesar de bem alimentado acabaria por se cansar rapidamente mal perdeu a primeira zagaia.
Estômagos cheios, toca a entrar no Corsa alugado e a rumar à costa. Contrariando os conselhos do Luís e da Susana (e mal), começamos por explorar spots mais a Norte da Ilha e fomos para o Porto do Salão.



O local era muito bonito, mas medonho visto de cima! Cerca de 50 ou 60 metros separavam o nosso carro do local onde começamos por pescar. Para percorrer essa distância tivemos de descer uma escadaria imensa, já bastante deteriorada. Fizemo-lo com algum receio e com todo o cuidado. Chegados junto do mar, deparamo-nos uma vez mais com uma água limpíssima que permitia ver o fundo mesmo quando aos nossos pés tinhamos logo cerca de 8 ou 10 metros de profundidade. Infelizmente, o vento que soprava de Nordeste rapidamente se encarregou de nos provar que deviamos ter ido para o Sul da Ilha. Assim fizemos.
Caminho inverso na escadaria - a subir! Nem vos digo nem vos conto! Imaginem!


Realizada a proeza de regressar ao carro, decidimos ir aos Capelinhos, mais concretamente ao Porto Comprido. A viagem foi muito agradável, apesar das inúmeras curvas e contra-curvas e fez-se num instante pois as estradas encontravam-se em excelente estado.
Ao aproximar-nos dos Capelinhos, o cenário muda literalmente. Ao invés dos campos verdejantes com muitas vacas a pastar, o terreno de pó e cinzas é apenas interrompido pelo Farol.



Descemos mais um pouco e estacionamos o carro numa rampa já bem perto do mar.


O spot é precioso! Avisto uma fileira de pedras onde as ondas batem e se espraiam trazendo muita espuma até a um caneiro bem profundo. É para lá que vou cheio de fé. Enquanto preparo a Technium de 3,30m com acção 50-100g que o meu amigo Urubu me emprestou para a viagem e a caso com o meu Twin Power 3000 com multifilamento 0,15, aconselho o meu Cotinha a seguir-me para aquele spot. Proposta declinada, na altura...
Clip colocado no terminal em fluocarbono 0,41, abraçado à Angelkiss que já no dia anterior me tinha feito sorrir. Chego ao spot e lanço 1, 2, 3, 4, 5 vezes... não tardou muito a sentir um ataque pujante, muito diferente daqueles que os robalos me têm habituado. Diferente para melhor! Mais enérgico, mais forte! E a velocidade da linha a sair do meu carreto!? E as pancadas que se sucediam a levar cada vez mais linha e a fazer o meu drag entoar uma melodia única!? Era para aquilo mesmo que eu estava ali! Chamo o meu pai e mal vejo que se trata de uma Anchova peço-lhe que comece a filmar. Quando chega perto de mim, já tenho a Anchova a seco.


Tratava-se de um exemplar modesto, mas que me encheu de alegria. Era a minha primeira e fazia jus aos relatos que ouvira. Contemplei-a por instantes, fotografei-a e devolvi-a ao seu habitat.




Apesar de satisfeito pela minha captura, o meu Pai manteve-se fiel à sua bóia, embora se tenha mudado prontamente para o local onde me encontrava. Contudo, mesmo lá, continuou a pescar pequenas bogas e carapaus.


A hora do almoço aproximava-se, bem como a hora de embarcar - marcada para as 14:30h. Demos a pesca matinal por encerrada e regressamos ao Hotel do Canal.

Eram 14:30h quando chegamos à Marina da Horta. O Luís e a Susana já nos esperavam. Embarcamos no Marlim, movido por 2 motores Yamaha de 80 cavalos.


A viagem durou cerca de 1:20h até ao spot escolhido. O barco foi fundeado e começamos por pescar à deriva com carapaus ou bogas vivos (categoricamente apanhados na altura pela Susana com aparelho e cana de pontas). Os resultados tardavam em aparecer e resolvemos colocar uma cana ao fundo com isco orgânico - cavala e/ou sardinha. Como os ataques eram constantes, acabamos o dia a pescar ao fundo. As capturas e libertações foram imensas. Garoupas (muitas), Sargos, 1 parguete e 2 bons Encharéus, fizeram questão de vir fora de água pousar para as fotografias.







Registamos ainda alguns bons peixes perdidos, após com a sua força bruta rebentarem os tensos com linha 0,55. Foram experiências novas, especialmente no que à força dos maiores exemplares pescados diz respeito. Não fazíamos ideia de que fosse tão difícil e desgastante resgatar aqueles peixões do fundo.
Cansados, mas sobretudo muito satisfeitos, regressamos a terra.
Provavelmente já a pensar no dia seguinte, que seria inteiramente passado no mar, o meu pai adormeceu antes do tempo, em plena mesa onde aguardavamos o jantar!

terça-feira, 26 de outubro de 2010

Quinta-feira, 21 de Outubro - uma Garoupa como aperitivo

Os deuses pareciam estar ao nosso lado. A viagem do Porto para Lisboa, e de Lisboa para o Faial, tinha sido perfeita. Sem atrasos, sem poços de ar e com bom tempo em todo o percurso.
Logo após as formalidades da chegada, e já ao volante do “possante” Opel Corsa, rumámos à belíssima cidade da Horta, tão apreciada por marinheiros solitários dos quatros cantos do Mundo. Ficámos instalados no Hotel do Canal, mesmo em frente à ilha do Pico e com a marina a escassos metros de distância.
A primeira tarefa foi contactar pessoalmente o casal do Faial Terra Mar, para combinar as saídas para o alto mar. Não demorou muito acertar o programa de ataque – iríamos embarcar sexta de tarde e no sábado, todo o dia. Estavam reunidas as condições ideais – o mar estava sereno e mesmo o vento era fraco a moderado de nordeste. Estava prometido um conjunto de actividades piscatórias variadas – pesca de fundo, à deriva, ao corrico e spinning junto às impressionantes arribas.
Concluída esta tarefa, e depois de um almoço rápido, fomos experimentar as amostras e os ferros num local lindíssimo na costa sul, chamado Varadouro, que possui um conjunto notável de piscinas naturais. A água era transparente e profunda, de um azul quase irreal. O Pedro, louco pelo spinning, optou logo pela sua Angel Kiss e começou os seus lançamentos. Eu, mais tradicionalista, escolhi a cana de bóia e aproveitei umas amêijoas salgadas que trouxera de casa.
O tempo de pesca foi curto, mas ainda deu para tirar algumas bogas, enquanto o Pedro fez o gosto ao dedo, pescando uma bonita garoupa.
Neste primeiro dia não deu para mais. As 17 horas locais aproximavam-se e tínhamos encontro marcado no hotel com a Sport-Tv, para assistirmos ao Besiktas/F.C. do Porto. E como não podia deixar de ser num dia tão perfeito, o verdadeiro glorioso cilindrou os turcos, mesmo a jogar contra 14…

Dia 21 de Outubro de 2010 (5ªFeira) – a chegada ao Faial

Minutos antes de pisar o solo Faialense, enquanto o avião se preparava para fazer à pista, tive uma visão fantástica: por entre os novelos de algodão em rama irrompia o cume do Pico (Piquinho) imponente, como se de um castelo de um conto de fadas se tratasse. Foi o sinal que o nosso destino estava mais perto que nunca.
Após uma viagem muito agradável (mesmo para mim que abomino aviões) com ponto de partida no Porto e com escala em Lisboa, sentimos a primeira turbulência. Felizmente foi curta, mas longa o suficiente para me deixar as mãos suadas e o coração taquicárdico. Acabavamos de “furar” o manto de nuvens que nos limitava a visão. Desde esse instante, a nossa linha de horizonte era bela. Em frente à Ilha do Pico, que já antes mostrara o ponto mais alto de Portugal, encontrava-se a Ilha Azul – O Faial! Entre as duas Ilhas o Canal que já dera nome a um livro de Vitorino Nemésio – “Mau tempo no canal”. Desta feita, nem o clima nem o mar fizeram jus ao título do referido romance. Felizmente! Tivemos mesmo muita sorte, pois dias antes da nossa chegada tinha passado uma tempestade pela Ilha com registos de ondas de 8 metros!
Chegados ao Hotel do Canal, separado apenas por uma rua da Marina da Horta, arrumamos as malas no quarto e fomos conhecer pessoalmente a Susana e o Luís da empresa Faial Terra Mar. Já tínhamos ficado muito bem impressionados através dos contactos estabelecidos previamente com vista à pesca embarcada e ao conhecê-los reforçamos essa ideia. Um casal super simpático, hospitaleiro, profissional, sempre disponíveis para ajudar. E ajudaram de que maneira! Não só nos dois dias em que pescamos no alto-mar, mas também nas dicas que nos deram para a pesca apeada na costa. Foram, acima de tudo, dois bons amigos que fizemos.
Almoçamos e fomos calmamente passear de carro pela costa Sul, rumo ao Porto do Varadouro. Ficaram-me na memória as palavras do meu Pai: “o azul do céu aqui funde-se com o azul do mar”. A água do mar é de um azul tão puro, tão limpa e cristalina que permite ver o fundo, mesmo quando os spots menos profundos têm uns bons 6 ou 7 metros. Além disso, como o porto onde começamos a pescar tinha piscinas naturais, cheguei a pensar que o azul celeste da água no local resultasse de um fundo em cimento pintado de azul… mas estava enganado, era mesmo a cor natural da água! Lindo!


Alegremente integrados naquele cenário, começamos a pescar: o meu pai à bóia com amêijoa e eu ao spinning. As capturas e libertações sucediam-se à bóia. Enquanto isso, avistava algumas perseguições às minhas amostras, que teimavam em desistir a meio. Troquei de cores e de tipos de amostras e nada. Mudo de spot e volto à obrigatória Angelkiss. Confirmo que esta sardinha parece universalmente eficaz: cai na água, uma ou duas maniveladas e pancada leve, mas certeira. Era a minha primeira captura em solo Açoreano: uma Garoupa pouco maior que a amostra, mas muito voraz.



Cientes de que o spot era valioso e que a excelente hora do pôr-do-sol ainda estava para chegar, mesmo assim demos a pesca por encerrada, já que queríamos ver o jogo do FCP na televisão. Uma opção mais tarde justificada pelo excelente resultado obtido!
Deitamo-nos cedo e adormecemos rapidamente tal era o cansaço da viagem após as poucas horas de sono do dia anterior. Muita energia seria necessária para os dias vindouros!