Não há nada melhor depois de 24h de trabalho sem vir a casa, do que sair da labuta, tomar o pequeno-almoço (ou nem isso) e partilhar com o mar toda a tranquilidade que teima em nos proporcionar. Assim foi hoje.
Ontem deitei-me a imaginar como seria a manhã de hoje: estaria o mar de feição? O windguru teria razão e estaria apenas uma brisa? Qual a amostra com que iria começar? Adormeci melhor com estes pensamentos do que com a saudade habitual que a distância da família tantas horas seguidas proporciona.
Acordei sem o despertador às 7h da manhã. Tinha sonhado com um belo robalo a fazer o drag do meu carreto cantar. A melodia era linda... acordei com ela na cabeça! Rapidamente me levantei, cheio de energia e vontade de ver os mantos de espuma branquinha que me esperavam! O meu pai lá estava à saída, depois de um turno passado à pressa, para tomar o pequeno-almoço e me dar boleia até ao mar. Infelizmente não me pode acompanhar como é habitual. Não gosto de pescar sozinho, mas hoje não tinha outra hipótese e a vontade era mais que muita!Deixado na praia sozinho, deparo-me com dois pescadores de buldo e borrachinha que acabavam de sair do spot onde eu tinha fé. Nada levavam... Mas a minha fé era mais que muita! Quanto mais não fosse, nada me faria privar do contacto da água fresquinha do mar no meu corpo, da melodia das ondas que poliam as rochas, das gotículas de ondas partidas que me deram os bons dias e me beijaram a face! Como se isso não bastasse, mais, muito mais me esperava!
Passo no dito spot, ainda com bastante água a esconder os caneiros de que tanto gosto, com muitas ondas, certinhas, muita espuma, mantos lindos de espuma! Quando a espuma parecia que ia deixar-me espreitar o que escondia por baixo, mais uma onda chegava e teimava em manter no anonimato os caneiros. Escolho uma passeante. Sammy na água... Super spook na água... mudo a cor... sempre o mesmo resultado... nem um toque! Nada de desanimar! Palmilhei o areal largos quiilómetros. A maré vazava. Já ao longe, avistava o spot desejado e camuflado pela espuma. Estava a ficar mais descarnado, desprotegido pela água. Convidava-me novamente. Não resisti ao convite e retrocedi. É preciso saber esperar! Mais do que isso, é preciso saber dar passos atrás para avançar de forma segura. Passo após passo, com todo o cuidado e ainda com o corpo quase todo submerso e o saco e a cana acima dos ombros, lá cheguei onde queria.
Chegado ao local desejado, as condições estavam ideais: ondulação certinha, muita espuma, pouco vento. O único senão era o banho constante causado pela rebentação das ondas. Já só de calções, e sempre zelando pela maior segurança, comecei a lançar. Como costumo fazer, fui lançando em leque, primeiro junto às rochas e progressivamente mais para o mar e de volta às pedras do lado oposto. Vários lançamentos com a Angelkiss - nada. Vários lançamentos com a Lucky craft flashminnow 130 - nada. Jackson athlete - nada. Experimentei todas as amostras que tinha levado e nada. Voltei à Maria chase que já la tinha tirado um pequenote e avancei mais um pouco quando o mar mo permitiu. Logo no primeiro lançamento, numa zona bastante profunda, ladeada por 2 fileiras de rocha, sinto o primeiro toque e o carreto soa a melodia com que tinha sonhado! O coração palpita, a emoção sobe ao rubro, e o peixe larga! Novo lançamento para o mesmo sítio e "zzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzz", a música volta a tocar, mas era um músico pouco experiente que foi devolvido à origem, para que cresça, se reproduza e um dia mais tarde possa tocar uma melodia ainda mais sonante! O sítio estava encontrado, eles andavam lá! Foi apenas meia hora de adrenalina, pois o meu pai entretanto acenava ao longe do carro acabado de chegar para me vir buscar. Deu tempo para pescar três músicos mais crescidos, avôs e pai do que foi devolvido! Foi uma manhã melhor que o meu sonho, pois a canção repetiu-se 4 vezes e cada uma mais bonita que a outra! Os 3 peixes são dedicados à minha avó que amanhã completa 87 anos! O peixe libertado é dedicado aos meus amigos Costinha e Nuno Xavier!